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Foto do escritorInstituto Mpumalanga

A indígena que foi para a cidade, mas não desaprendeu a ser pássaro

Joice Lopes é Hiraka. O significado do nome indígena na cultura dos paumari é pássaro da mata. Não havia combinação melhor para Joice, a menina de alma livre e sonhos alados. Ela nunca se esquecera do que seu nome representa, porém boa parte da cultura de seus ancestrais vivenciada na infância se perdeu. Consequência do tempo e do afastamento de casa.

Nascida na aldeia Ilha da Onça, Joice se mudou para Porto Velho, capital de Rondônia, para seguir seus estudos. Aprendeu o português, que passou a falar com fluência, porém quando retornou à sua terra, já não tinha habilidade com a língua nativa, esquecida em virtude da falta de prática nos seis anos de estudo. Embora tenha desaprendido a língua materna, Joice não desaprendeu a ser pássaro. A liberdade que denota seu nome é também traço marcante de sua personalidade.

Voltou a estudar, no entanto, o objetivo era novo: resgatar sua cultura por meio do aprendizado da língua paumari. Para tanto, contou com o apoio do projeto Sou Bilíngue. É o quarto ano de Joice com a turma. Com 17 anos, ela preserva a personalidade forte e o imenso orgulho de seu povo.

Saiba mais: 


A realidade de Joice Lopes se assemelha com a de muitos outros indígenas, que abandonam as aldeias para estudar. No entanto, ela não abdicou de sua cultura. (Foto: Celia Santos)

A realidade de Joice Lopes se assemelha com a de muitos outros indígenas, que abandonam as aldeias para estudar. No entanto, ela não abdicou de sua cultura. (Foto: Celia Santos)


Joice não abandonou os estudos na cidade, mas os concilia com as aulas em paumari. É presença certa todas as sextas e sábados junto ao professor Edilson. “Minha cultura não pode se perder, eu quero ensinar para meus filhos”, afirma. “Minha escola não é indígena, fica no centro da cidade de Lábrea. A gente ainda sofre muito preconceito de raça. Gostaria de ter uma escola na minha comunidade”, acrescenta a jovem que estuda na Escola Estadual Educandário Santa Rita.

Abdicar dos estudos não está nos seus planos, porém Joice também não quer deixar de viver em contato com a natureza. “Os igarapés são muito limpos. Ainda posso escolher se quero me banhar no igarapé de água quente ou fria, é muito gostoso”, conta Joice, que revela uma conexão especial com as águas.

Sua origem está no rosto arredondado, na pele morena e nos olhos negros. Cabelos lisos enfeitados com um cocar de plumas brancas, azuis e amarelas não deixam dúvida. Fica apenas a certeza de que Hiraka voa alto, sem perder o caminho de casa.

 

Vozes do Purus

O Projeto Vozes do Purus abraça as manifestações e tradições culturais dos povos indígenas como parte da Caravana das Artes –  movimento que acredita no poder mobilizador da arte, na possibilidade de aprender e construir juntos, na valorização da cultura, na promoção dos ideais democráticos e da paz. A Caravana das Artes é um projeto itinerante que percorre todos os anos 10 municípios com baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) e infantil (IDI), promovendo atividades artísticas entre crianças e jovens, além de capacitação de professores da rede pública. Uma metodologia que transforma a realidade de crianças e jovens em espaço e conteúdo para o aprendizado e, principalmente, valoriza o papel do professor como ator social com grande influência na comunidade.

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