é na brincadeira que a criança cria seu próprio . mundo, que cabe em uma imaginação.
Uma metodologia poética para o aprendizado e a sensibilidade
Quando ainda criança, Antônio não parava quieto e corria livre sem freio. Seu corpo torto de longilíneo, tinha mola, tinha balão, catavento, batedeira, tudo dentro. De olhos grandes e curiosos piscava repetidas vezes na tentativa de mudar a cor que as cores já tinham, e sozinho, cantava para multidões! Não se incomodava se a tranquilidade da vizinha reclamona tinha um cachorro bravo. Vivia mesmo para das coisas experimentar.
De audição aguçada, escutava de tudo. O gato de bueiro que miava lá longe, e a cigarra de pé de jabuticaba que encantava no quintal de brincar. E nem só de voz de bicho lá, seu ouvido vivia. Quando não aguentava mais o excesso de falatório das irmãs, tio e prima de cabelos embaraçados, tampava o ouvido com chiclete, para que as vozes não confundissem sua imaginação, seu refúgio.
Antônio, de tudo tinha corpo, de minhoca, de elefante, de touro bravo e jacaré. – “Esse menino pula demais:”, dizia a tia! – “E fala demais”, dizia o avô. Antônio só não entendia o que ali não podia!
Entendedor de contar pulos de corda e de velocidade de bambolê em volta da cintura, a sala de aula não tinha lá as cores que o mundo depois da janela tinha. A carteira era um barco, os colegas, como uma tripulação! Afinal, de matéria decorada de passar de ano, já entendia! De meias amarelas na praça da escola, experimentava de todos os sabores das barracas de doce. Tinha gosto mesmo, pela descoberta de paladar e olfato.
E muita coisa legal Antônio, em experimentar, aprendia! E como aprendia rápido! Viver, era um convite à descobertas e mágicas.
De óculos escuros, tomava o seu café da amanhã. O sol era seu maior desafio. Se punha diante dele, abria e fechava os olhos repetidas vezes até lacrimejar, só para ver se o círculo definido se desenhava lá no céu! Nas cores da geleia caída no chão, enxergava personagens, com quem conversava sobre acontecimentos de vizinhança: a senhora gorda que ria de dente amarelo para a amante do marido, e o padeiro que de troco em tronco ficava com um pouco! “Não olhe demais. É feio!” Dizia a mãe. – “Não dá!!!” se explicava no silêncio da mente. Tinha mesmo no lugar dos olhos, duas lanternas de iluminar picada de mato. E insistia a mãe. “Pare de olhar!”. Mas, Antônio, ainda não entendia o que ali não podia!
Aos 7 anos, seu raciocínio de seminário acelerava-se mais que a boca pudesse dar conta de articular o verbo, e dá-le nota zero de geografia em assunto que, esse sim, entendia. – “Como assim?” Se perguntava. Ali, aprendeu, que de palavra rápida o mundo já tava cheio demais. – “Silêncio”, gritava a professora, – -“Fica quieto menino!” Gritava a mãe. – “Que ideia de jerico”. Dizia o pai. E entre ideias de desviar caminho de formiga e sobre as coisas de felicidade, aprendeu a palavra “proibido”, e a chorar sozinho. Aquietou-se ali, sorrindo.
A descoberta do mundo pelas próprias pernas e as poesias da infância.
De mãe dramática-passional ao mínimo sinal de resfriado, e pai bêbado que tropeçava de terça-feira na escada, aos 14 anos descobriu que ouvir as batidas das brigas de porta na cara não tinha lá sua graça. Fechou os olhos e concentrou-se. Aprendeu ali a esconder o som de ouvido. A musculatura da nuca ganhou tônus, e de sua imaginação criou a paz e a chuva que trazia consigo a calma e o silêncio da noite.
Antônio cresceu e adultou-se médico. Os olhos grandes de curiosidade espremeram-se no período de faculdade. “Você confia demais menino”, repetia na cabeça as palavras da mãe. Aprendeu da maldade e da desconfiança, e sofreu para encontrar uma namorada. À essa altura, a paquera já tinha descoberto ali o seu medo de amor.
Da escuta arisca, irritou o som das lembranças das brigas de casa, mas junto, o miado de gato de rua e a cigarra engraçada que cantava.
A coluna amedrontada de hérnia percebeu um dia, que o corpo ali não tinha mais a mola, e gritou de dor! Antônio, sentia saudade de quintal! Adulto, e esquecido de propósito, dava-se conta que a cabeça de gente grande e o tempo, a brincadeira levava embora.
Nesse dia, olhou para o sol novamente. Espontaneou as idéias de corpo, de bicho e de batedeira, respirou firme na lembrança de idéias…. Voltou à sorrir e brincar!
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