A Caravana das Artes, juntamente com a Caravana do Esporte, irá realizar mais uma etapa do projeto pela primeira vez na cidade de Palmas, capital do Tocantins. A grande novidade será aproveitar o clima de integração cultural, pois concomitante a realização do projeto, o município recebe o I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI).
Será a primeira vez que etnias de diferentes países irão se reunir para disputar uma competição esportiva. Esse intercâmbio de culturas é uma extensão dos Jogos dos Povos Indígenas, que acontece desde 1996, porém nunca em escala mundial. Além de ser uma celebração, a competição resgata disputas tradicionalmente indígenas e até alguns esportes olímpicos, adaptados à maneira indígena.
O esporte será o pretexto para um intercâmbio de culturas indígenas. Serão 23 etnias brasileiras, além de povos de 22 países. Nesse contexto, nossas equipes irão apresentar as metodologias de esporte e arte educacionais.
Embora de tradições e crenças diferentes, os povos indígenas têm o comum a luta pela preservação de suas respectivas culturas, que sofrem com o avanço da urbanização.
Caravana das Artes tem como um de seus focos a atuação com povos indígenas e a preservação de culturas tradicionais (Foto: Célia Santos)
Conheça um pouco de cada etnia nacional:
Asurini – Estão no município de Tucuruí, no Pará. Caracterizam-se pela pintura negra pelo corpo e vermelha no rosto, com uma faixa escura na altura dos olhos.
Bororo Boé – Estão espalhados pelo Mato Grosso e divididos em seis aldeias. O nome significa “pátio de aldeia”, em virtude da disposição circular das casas com um pátio no centro. Possuem perfurações no lóbulo das orelhas e no lábio inferior. O desenho no rosto indica o clã de origem. No esporte, o destaque é das mulheres no cabo de força.
Rikbaktsa – Originários de Juína, no Mato Grosso. Não costumam fazer uso de muita pintura pelo corpo, mas não poupam adereços, com destaque para botoques que alargam os lóbulos das orelhas. São habilidosos na canoagem.
Javaé – Habitam a maior região da Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo entre os estados de Tocantins e Goiás. Estão divididos em 13 aldeias e nem todas estão no interior da ilha. Usam tecidos vermelhos amarrados nas pernas e desenhos pelo corpo feitos com jenipapo.
Guarani-Kaiowá – No Brasil, estão no estado do Mato Grosso do Sul, porém também tem representantes no Paraguai. São conhecidos por ritos, que podem durar várias horas. Pintam o corpo e confeccionam roupas de algodão ou juta com miçangas.
Kayapó – Estão no Pará e na região norte do Mato Grosso. Fazem grafismos étnicos com traços precisos, utilizando o jenipapo e o carvão. Os homens usam cocares com penas de arara e as mulheres destacados colares, braceletes e pulseiras.
Kaingang – Espalhados por quatro estados da região sul e sudeste: Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Usam roupas confeccionadas com tecido de urtiga brava, além de pinturas pelo corpo.
Kamayurá – Moram na região do Alto Xingu, em Mato Grosso. As mulheres usam colares de miçangas, amarrações nas pernas e pinturas corporal. Além do corpo, os homens também pintam os cabelos e usam colar de caramujo e cinto de miçangas.
Karajá – Os representantes dessa etnia estão em quatro estados do Norte e Centro-Oeste: Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins. Têm como destaque as bonecas de cerâmica. As pinturas pelo corpo são bastante variadas e informam sobre categoria e idade. Usam plumas nos cocares e nos brincos.
Parakatejê/Kyikatejê – Pertencem a um grupo conhecido como Gavião. Parakatejê é a denominação daqueles que vivem na jusante do rio e Kyikatejê refere-se aos que moram na nascente. Os homens usam adereço de palha na cabeça e as mulheres, além dos brincos de penas, usam saias de miçanga. Destacam-se na corrida de tora e no arco e flecha.
Canela Rãmkokamekra – O povo Canela se localiza no Maranhão. Fazem cerimônias solenes, nas quais usam pinturas e ornamentos especiais.
Kuikuro – Moradores do Alto Xingu, também dividem a tradição de colar de caramujo e cintos de miçangas. As mulheres cobrem as partes intimas do corpo com adornos de palha. São destaque na luta corporal.
Kura Bakairi – Localizados no Mato Grosso, possuem forte espiritualidade, que expressam em diversos rituais. São conhecidos como bons contadores de histórias.
Mamaindé Nambikwara – Vivem próximos às nascentes dos rios, tanto em Rondônia e Mato Grosso. Possuem perfurações nas orelhas e realizam muitos rituais xamânicos.
Manoki – Estão no Mato Grosso. Tem uma língua indígena bastante peculiar, que não se aproxima de nenhum tronco linguístico. Usam brincos de penas no septo, cocares de arara azul e colares de sementes.
Matis – São indígenas do Amazonas. Os ornamentos indicam gênero e idade. A cada fase nova da vida, os indígenas fazem novas perfurações, que evoluem do lóbulo da orelha, do nariz e do lábio inferior, conforme vão amadurecendo. Alguns mais velhos chegam a furar as bochechas.
Paresi – É um grupo indígena de Rondônia e Mato Grosso, cujos rituais tem bastante importância e frequência cotidiana. Os homens se caracterizam por saiotes de algodão, cocares de arara azul e amarrações. As mulheres usam saias amarelas e arcos de plumas coloridas.
Pataxó – Estão localizados no extremo sul da Bahia e no norte de Minas Gerais. O contato excessivo com a língua portuguesa fez com que grande parte da cultura materna tenha se perdido, embora haja um esforço atual para recuperá-la.
Ubiranan Pataxó viajou do sul da Bahia até Palmas para representar seu povo nos Jogos Mundiais (Foto: Celia Santos)
Tapirapé – Habitam regiões do Mato Grosso e do Tocantins. Eles já estiveram ameaçados de extinção e lutam pela manutenção da cultura. Dependendo da ocasião, fazem pinturas em toda a extensão do corpo, com desenhos nas faces.
Terena – São originários do Paraguai, mas no Brasil se estabeleceram no Mato Grosso do Sul. Alguns grupos se espalharam por Mato Grosso e São Paulo. Os homens usam saiotes e cocares, enquanto as mulheres usam roupas de juta. O preto simboliza o luto, o vermelho representa o sangue e, por fim, o cinza, a liberdade.
Waiwai – Possuem terras indígenas no Amazonas, Pará e Roraima. Tem rituais próprios, mas acabaram por absorver a Páscoa e o Natal da cultura ocidental. No corpo, usam pintura de jenipapo com algodão, enquanto nas faces preferem o urucum.
Xavante – Estão localizados no Mato Grosso. Fazem desenhos corporais com simbologia do estado de espirito ou de alguma ocasião especial. Podem indicar felicidade, tristeza, mas também casamento ou guerra. Não usam muitos adereços.
Xerente – São naturais do Tocantins. São famosos pelos artesanatos, produzidos com capim dourado.
Manifestações culturais já começaram em Palmas, antes mesmo da abertura dos Jogos (Foto: Celia Santos)
Esportes tradicionais carregam cultura e atravessam gerações
A associação entre esporte indígena e o arco e flecha é imediata. Entretanto, há muitas outras modalidades e todas elas serão contempladas no primeiro Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que começa no próximo dia 23 de outubro, em Palmas, capital do estado de Tocantins.
No total, haverá 16 modalidades, porém elas estarão divididas em três categorias: Jogos Nativos de Integração, Jogos Demonstrativos e Jogos Ocidentais. A primeira divisão corresponde às modalidades presentes na grande maioria das etnias, ou seja, que fazem parte da cultura indígena de maneira geral. As modalidades mais específicas de cada cultura irão se enquadrar nos Jogos Demonstrativos. Por fim, a apropriação do futebol por diversas etnias será comtemplada com a disputa do mais tradicional esporte ocidental, tanto no masculino, como no feminino.
Durante as disputas, os indígenas irão preservar as respectivas culturas, com peles pintadas, adereços de plumas e uma infinidade de significados atribuídos aos adereços.
Grande fascínio para quem acompanha os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas será as disputas das modalidades demonstrativas. São esportes que atravessam séculos e gerações, mas permanecem vivos dentro da cultura indígena. Diferentes, eles fazem parte da riqueza cultural de cada povo.
No Jikunahati, por exemplo, usar a cabeça é literalmente uma regra. Os competidores cabeceiam uma bola feita de seiva de mangabeira sempre em direção ao campo adversário. Quanto mais longe, melhor, pois dificulta que a outra equipe devolva a bola e rende pontos para o opositor. Grupos indígenas praticavam essa modalidade antes mesmo do contato com os não indígenas.
Os povos Kamayurá e Kuikuro, do Alto Xingu, irão apresentar o Jawari, jogo com dardos, cujo objetivo é acertar o corpo dos adversários, porém, para tanto, as pontas dos dardos são envoltas com ceras esféricas, que impedem qualquer ferimento. Também os as pontas das flechas protegidas, os indígenas jogam o Kagot. São 15 participantes por equipe, que se enfrentam em pares, aqueles que forem atingidos são eliminados. É preciso muito reflexo para desviar das flechadas e estratégia para prever os movimentos dos oponentes, que se esquivam das lanças. O Kaipy é mais um esporte com o uso do arco e flecha, mas dessa vez o alvo é o caule do buriti, palmeira bastante comum no Brasil.
Alguns esportes indígenas se assemelham com modalidades da cultura ocidental, como o Akô, um revezamento 4x400m com bastão praticado pelos povos Gavião Kyikatêjê e Parkatêjê. No Paikhãn, o objetivo é literalmente não deixar a peteca cair e no Ronkhãn os competidores precisam conduzir a bola até a linha de fundo do adversário com um bastão.
Chamado de esporte universal, o futebol não fica de fora dos JMPI. A modalidade com fãs espalhados por todo o mundo encontrou nos indígenas fiéis adeptos. São inúmeras as aldeias que contam com um campo de futebol no Brasil.
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